"Como é que o Mestre vivia com o povo dele? Era plantando arroz, plantando feijão, plantando macaxeira, plantando cana, plantando banana, para ter a fartura natural. Quer dizer: que essa aqui é a riqueza que o Mestre deixou na nossa mão, foi essa tradição, esse conhecimento de trabalhar uma terra e da terra tirar o pão de cada dia. (...) o Santo Daime, enquanto terapêutica alternativa, se realiza, a olhos vistos, não apenas no decorrer de suas sessões e hinários festejados, mas também no esforço do trabalho com a terra, na enxada, no terçado, no machado, na pá e no aguador, para assim se receber as energias positivas e eliminar positivamente as negativas, regidos pelo movimento do Sol, da Lua e das Estrelas, sendo essa a sabedoria regeneradora para curar os homens das cidades ao reencontrarem sua harmonia profunda com a Mãe Natureza, e assim serem mais felizes. Este é o exemplo do Céu do Mapiá."
Essas palavras de Francisco Corrente da Silva fazem parte da entrevista que realizei com ele para publicar no Suplemento Especial do jornal acreano "O Rio Branco" em comemoração ao Centenário do Mestre, na terça-feira 15 de dezembro de 1992, com o título "Herança do Mestre - Tradição Agrícola convive com Daimistas". Demonstram a essência do pensamento de Sebastião Mota com relação à busca de autosubsistência de seu povo na floresta amazônica, que nos primeiros tempos do Mapiá era desenvolvida através de trabalhos agrícolas em regime de mutirão que afirmavam a força do relacionamento comunitário. E essa com certeza é uma característica notável na pessoa do "Tio Chiquinho", o qual vinte anos atrás me recebeu na Colônia Cinco Mil, que na época dirigia, e me iniciou no Daime e na Cultura da Ayahuasca em si: até minha primeira calça de farda azul, boca-de-sino, era dele e me foi presenteada. Na mesma reportagem de 1992 eu assim me referi a ele:
"Mesmo para quem não o conhece, Francisco Corrente é uma personalidade que desperta forte empatia no primeiro contato. Verdadeiro representante da cultura amazônica da ayahuasca, na síntese encontrada entre o xamanismo indígena, as tradições esotéricas dos novos-cristãos que colonizaram o Nordeste brasileiro, e a umbanda, o tio Chiquinho, como lhe chamam seus afilhados, é, aos 44 anos de idade, um espelho da Doutrina do Santo Daime".
Ele nasceu em Sena Madureira, Estado do Acre, no dia 20 de julho de 1948, filho do piauiense Manoel Corrente e sua esposa Dona Maria. No Dia de Todos os Santos de 1971, em Rio Branco, fardou-se, e se conta que neste dia teve um "passamento" dos mais formidáveis. Aprimorou-se ajudando nos feitios de Daime de eméritos irmãos da casa como Raimundo Gomes, Francisco Grangeiro e Sebastião Mota, e juntamente com seu pai e o restante da família acompanhou a este último quando da criação da igreja da Colônia Cinco Mil. Aí casou-se com Iolanda Braga, fardada do Mestre e cunhada da filha deste, Marta Serra, e tiveram a filha Janaína. Acompanhou o Padrinho Sebastião no Rio do Ouro e no Mapiá, mas a pedido deste se encarregou da gerência da Cinco Mil enquanto o Padrinho Wilson voltava a ocupar a direção dos trabalhos espirituais da antiga igreja-matriz do Centro. Caboclo guerreiro como seu pai, o Padrinho Corrente, a partir dos anos 90 passou para a Fazenda São Sebastião, na Boca do Mapiá, coordenando vários feitios nas áreas do Rio Purus. Verdadeiro capitão-de-mato da Doutrina, seu hinário pode parecer pequeno comparado com tantos outros, com muitos hinos curtos de apenas duas estrofes que se podem repetir à vontade, mas é exatamente por essa "concentração" energética que resulta em um trabalho de muita força, muita luz, e muito estudo, seja bailado no salão, em batições de jagube nos feitios ou em sessões especiais de cura.
"O Signo do Teu Estudo", título do primeiro hino, hoje dá nome ao seu hinário. Talvez seja uma necessidade que as pessoas sentem de que os hinários tenham títulos, quando a princípio apenas alguns hinos possuiam nome específico (por exemplo, o "Unaqui", o "Leão Branco", o "Flor de Jagube" do Mestre Irineu). No caso do caderno de hinário do Padrinho Francisco Corrente, talvez o "signo" ainda não esteja develado, e o nome do caderno ainda virá para ele. O fato é que este seu hinário é mesmo um grande estudo, não apenas para ele próprio que na força do Daime recebeu seus hinos, mas para toda a irmandade ligada ao Padrinho Sebastião. Seu último hino diz:
"Mesmo para quem não o conhece, Francisco Corrente é uma personalidade que desperta forte empatia no primeiro contato. Verdadeiro representante da cultura amazônica da ayahuasca, na síntese encontrada entre o xamanismo indígena, as tradições esotéricas dos novos-cristãos que colonizaram o Nordeste brasileiro, e a umbanda, o tio Chiquinho, como lhe chamam seus afilhados, é, aos 44 anos de idade, um espelho da Doutrina do Santo Daime".
Ele nasceu em Sena Madureira, Estado do Acre, no dia 20 de julho de 1948, filho do piauiense Manoel Corrente e sua esposa Dona Maria. No Dia de Todos os Santos de 1971, em Rio Branco, fardou-se, e se conta que neste dia teve um "passamento" dos mais formidáveis. Aprimorou-se ajudando nos feitios de Daime de eméritos irmãos da casa como Raimundo Gomes, Francisco Grangeiro e Sebastião Mota, e juntamente com seu pai e o restante da família acompanhou a este último quando da criação da igreja da Colônia Cinco Mil. Aí casou-se com Iolanda Braga, fardada do Mestre e cunhada da filha deste, Marta Serra, e tiveram a filha Janaína. Acompanhou o Padrinho Sebastião no Rio do Ouro e no Mapiá, mas a pedido deste se encarregou da gerência da Cinco Mil enquanto o Padrinho Wilson voltava a ocupar a direção dos trabalhos espirituais da antiga igreja-matriz do Centro. Caboclo guerreiro como seu pai, o Padrinho Corrente, a partir dos anos 90 passou para a Fazenda São Sebastião, na Boca do Mapiá, coordenando vários feitios nas áreas do Rio Purus. Verdadeiro capitão-de-mato da Doutrina, seu hinário pode parecer pequeno comparado com tantos outros, com muitos hinos curtos de apenas duas estrofes que se podem repetir à vontade, mas é exatamente por essa "concentração" energética que resulta em um trabalho de muita força, muita luz, e muito estudo, seja bailado no salão, em batições de jagube nos feitios ou em sessões especiais de cura.
"O Signo do Teu Estudo", título do primeiro hino, hoje dá nome ao seu hinário. Talvez seja uma necessidade que as pessoas sentem de que os hinários tenham títulos, quando a princípio apenas alguns hinos possuiam nome específico (por exemplo, o "Unaqui", o "Leão Branco", o "Flor de Jagube" do Mestre Irineu). No caso do caderno de hinário do Padrinho Francisco Corrente, talvez o "signo" ainda não esteja develado, e o nome do caderno ainda virá para ele. O fato é que este seu hinário é mesmo um grande estudo, não apenas para ele próprio que na força do Daime recebeu seus hinos, mas para toda a irmandade ligada ao Padrinho Sebastião. Seu último hino diz:
Aqui cheguei, aqui chegueiAqui cheguei e vim me apresentar
Aqui cheguei, aqui chegueiAqui cheguei, eu vim me matricular
O Pai Eterno e a Virgem MãeE os professores que estão a ensinar
Que o mistério deste segredo
Está nesta escola para todos estudar.
Aqui cheguei, aqui chegueiAqui cheguei, eu vim me matricular
O Pai Eterno e a Virgem MãeE os professores que estão a ensinar
Que o mistério deste segredo
Está nesta escola para todos estudar.
A gravação que apresentamos é de excelente qualidade, com destaque para o rico instrumental e o timbre particular do dono do hinário. Para baixar os 34 hinos do caderno "O Signo do Teu Estudo", em formato wma, com caderno para impressão e cifras musicais, clique em:
Wilton George, dirigente do CHAVE de São Pedro, junto do nosso "Tio Chiquinho".
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