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domingo, 29 de janeiro de 2012

O Construtor de Sonhos



        Mal sabia ele que um futuro brilhante o aguardava quando iniciou sua carreira como pedreiro de uma obra divina chamada vida. Um a um, empilhou seus sonhos como tijolos, erguendo uma parede maciça destinada a conclusão de um túnel infinito. Utilizou seus objetivos como cimento para tornar os sonhos mais concretos e seguros.

       Mas durante a obra, ao observá-la ainda mal definida pelos rejuntes e desconexões entre sonhos e objetivos, resolveu mudar de profissão. Tornou-se pintor. Pegou um pincel e, de forma cautelosa, passou uniformemente uma tinta branca por toda sua construção. As divisões foram esquecidas e tudo havia se fundido como se houvesse um único e principal significado. 


     Ainda descontente, virou desenhista. Experimentou as mais diversas emoções e transpôs para o túnel tudo o que sentia. Conseguiu dar-lhe vida e surgiu a esperança em concluí-lo. Pobre pintor, não imaginava o quão trabalhoso e impossível seria esse feito.

     Mas sem saber disso, trabalhou incansavelmente.

   Lindas constelações apontando para direções distintas surgiram. Vários personagens conquistaram seus lugares naquele trabalho tão árduo e perfeito que chegava cada vez mais perto do princípio de seu fim. 


    Assim que terminou de modelar tudo o que já havia construído, começou a aumentar a extensão do túnel. Seria necessário passar por muitos obstáculos para continuar e um deles foi quando precisou decidir qual a finalidade de todo seu esforço para seguir este ou aquele caminho. 



   Entre um dilema e outro, apareceram as pessoas “ecologicamente corretas” para questionar as regularidades daquela obra sem propósitos. Indignado com a situação em que se encontrava, a ponto de perder o que havia erguido com tanta dignidade e convicção, resolveu ser seu próprio advogado. Lutou muito, brigou por justiça e conseguiu reaver a licença para sonhar. 

    Voltou a ser pedreiro para usufruir sua conquista, ampliando suas ambições e experiências de vida. Quando tudo parecia perfeito, uma decepção carregada por uma bola demolidora de sonhos surgiu e ameaçou as estruturas do túnel.

    Contudo, o alicerce de determinação muito bem construído impediu a destruição completa, sendo apenas necessário reerguer o que havia sido jogado ao chão. Para tanto, apareceram amigos de todas as partes, outros pedreiros, outros pintores, outros desenhistas.

      Em um instante quase mínimo, ainda quase meio piscar de olhos, o túnel havia ganhado outras proporções. Suas dimensões eram inacreditáveis e sua aparência mais próxima da perfeição, muito mais do que qualquer perfeição jamais conhecida. Mas como nada é feito de perfeições, era provável que algo estivesse enganando os olhos de quem tentasse enxergá-la.

   Na verdade não só os olhos, mas a alma do nosso personagem trabalhador. Observando a rapidez com que seu túnel crescia, decidiu esculpir suas vitórias. Cada passo, cada conquista, cada momento que significou mais do que a eternidade pudesse suportar em carga horária. Entretanto, enquanto registrava o que havia conseguido, percebeu que inúmeras infiltrações começaram a surgir. 


         Talvez falha de quando fora pintor, ou até mesmo um abalo na construção quando estava esculpindo. Algo estava errado. A obra estava comprometida. Percebeu que havia sido traído, pois algumas pessoas apagaram os desenhos feitos em uma parte e envenenaram outras para derrubar uma pilha de sonhos sobre a cabeça do pobre escultor.

     Sofreu escoriações pelo corpo, mas o órgão mais atingido foi o coração. Depois da queda, levantou-se e não desistiu. Refez seus sonhos, mudou alguns para melhor encaixar nos buracos abertos, redesenhou sua vida e continuou seu trabalho.
          Agora pergunte a ele o que o leva a sempre continuar ampliando esse túnel de forma que nunca desista e ele te responderá: “Eu vejo a luz em seu final e enquanto não alcançá-la jamais desistirei, pois não terei chegado ao propósito de construí-lo”. 


          Essa luz pode-se dizer que é a recompensa mais bela que se poderia receber. Ela representa o sucesso. Sucesso esse adquirido pelo nosso incansável trabalhador quando ele atingir a plenitude de sua obra, olhar para trás quase fechando os olhos para enxergar o quase fim do que tiver conquistado e perceber que seu túnel, sua vida, valeu a pena. 


        Então poderá finalmente descansar e repassar sua construção para que um próximo trabalhador insaciável possa continuar até que outra luz seja revelada e mais uma parte concluída. 


        Quem sabe numa geração mais futura do que a última das gerações, o túnel esteja finalmente completo. Aí então a passagem estará aberta. E nele passarão outras vidas, outros trabalhadores, destinados a percorrer todo o túnel para entender que para ser digno de chegar ao seu final, precisará ser tão persistente quanto o pedreiro que colocou o primeiro tijolo.

Desconheço o autor

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